Eu sempre
achei que, depois do vestibular, viria a parte realmente difícil: permanecer na
faculdade até o final e conseguir me formar. Eu estava certa, mas ao mesmo
tempo equivocada, pois pensava que seria difícil devido às matérias, só que
o que acontece é que, na verdade, há outros dois obstáculos principais, que
ultimamente vêm atrapalhando meu processo de adquirir conhecimento:
infraestrutura péssima e violência nos arredores do campus.
Eu aprendi a
amar minha faculdade, mesmo com todos os problemas, pois é nela que tenho
passado a maior parte dos meus dias desde setembro de 2013. Tenho aprendido
muito, conhecido pessoas maravilhosas e tendo oportunidades únicas. E é por
isso que dói tanto ver esse lugar com tantos problemas. Não vou mentir: quando
prestei vestibular para a UERJ de São Gonçalo, já sabia que não seria fácil e
que teria que ter muita paciência para lidar com as diversas complicações que a
cercam. Mas vivê-las tem sido algo surreal.
Passamos por
um calor descomunal na maioria dos dias: as salas possuem ventiladores com uma potência
fraquíssima, e muitas vezes nem funcionam. Algumas poucas salas possuem ar-condicionado,
mas a maioria não funciona e não há ventiladores para "ajudar", então imaginem o nosso
desespero quando ficamos em uma sala assim. É uma bênção quando um professor
consegue nos levar para a sala de vídeo ou para a sala de informática, pois só
assim conseguimos prestar total atenção ao professor e deixamos de nos
preocupar em limpar o suor e em sair de 5 em 5 minutos para tomar um ar fresco.
E esse é só um dos problemas de infraestrutura. Confiram a reportagem que foi
feita recentemente pela Rede Record: Alunos da UERJ reclamam de infraestrutura no campus de São Gonçalo
Como vocês
viram, falaram sobre o problema da violência também. Numa terça-feira, estava
na aula de inglês quando ouvi pela primeira vez, desde que entrei para a FFP,
alguns tiros no morro atrás do campus. A aula seguiu normalmente, mas fiquei
assustada porque realmente foi muito perto de onde estávamos. Naquela mesma
semana, na sexta-feira, estava tendo aula de literatura, quando começaram a
atirar e foi aí que pela primeira vez tive que me abaixar junto dos meus
colegas e do professor para não ser atingida pelas balas. Foi uma sensação de
incredulidade e espanto. Voltei para casa tremendo de medo. Ouvi alguns tiros
em um morro um pouco afastado da minha casa, o que nunca me assustou porque
sabia que não era perto, mas naquele dia eu cheguei a quase chorar e dormi no
chão, para vocês terem uma ideia do trauma. Ficamos vários dias sem aula por
causa desses tiroteios que estavam ocorrendo entre as facções de São Gonçalo. Como
se já não bastasse nosso calendário irregular, com aulas até o final de janeiro,
agora tenho certeza de que o período vai ser bem mais longo do que o esperado.
Ontem (11/11/2014),
tive aula de Língua Portuguesa, e durante a explicação da professora ouvi
barulhos estranhos vindo da parte de trás do nosso campus, na direção do morro.
Eu já sentia o que estava por vir. Olhei para a professora, esperando a reação
dela, e então, em questão de segundos, todos já estavam no chão porque
percebemos que se tratava, novamente, de tiros, mas dessa vez com um armamento
muito mais pesado. Ouvi gritos vindos do corredor e algumas pessoas entraram na
nossa sala para se protegerem, porque estávamos em um bloco afastado do morro.
A faculdade estava cheia, e o resultado foi o caos: pessoas correndo, pessoas
sentadas nos corredores e nas escadas, chorando. Os guardas tentando orientar e
acalmar a maré de pessoas desesperadas, sem saber se corriam para casa ou se
ficavam para esperar a situação melhorar. Esperamos uns dez minutos, até que
fomos orientados a sair calmamente pela parte da frente da faculdade.
Relato esses
acontecimentos aqui com o intuito de chamar atenção para o que passamos
diariamente em um lugar onde deveríamos nos sentir seguros e calmos para nos
prepararmos para o mundo. O que acontece é que nos sentimos desamparados e não
vemos a mudança chegar, mas estamos lutando para reivindicar nossos direitos,
seja com protestos, chamando emissoras de TV ou, como eu, divulgando como posso
o que faz parte da nossa realidade. Desculpem pela postagem enorme. Eu
precisava desabafar sobre tudo isso. A vontade de ir para a faculdade, nesse
momento, é zero, mas preciso ter forças para isso, porque, como diz Cazuza, o
tempo não para.
Convido vocês para lerem mais
essas reportagens: